KUNDALINÍ, A ENERGIA CRIADORA






Podemos definir a kundaliní como uma energia física, de natureza nervosa e manifestação sexual (DeRose, 1992, 1999, 2007; Santos, 2000). Quando é despertada é conduzida pelo sistema nervoso central até ao cérebro. Mediante esse processo alquímico de transmutação da energia genésica em poder criador, exacerbam-se a inteligência, a criatividade, percepções e estados expandidos de consciência (DeRose, 2007). 
De acordo com a opinião dos antigos mestres, o aparelho reprodutor tem duas funções: a reprodução e a evolução. 
A kundaliní é a guardiã da evolução humana. Com o despertar da kundaliní dá-se a reversão do aparelho reprodutor e o seu funcionamento mais como mecanismo de evolução do que de reprodução, enviando para o cérebro um fino fluxo de “energia nervosa” muito potente (Krishna, 1985). O acordar dos chakras é um importante evento na evolução humana. Não deve ser confundido com misticismo ou ocultismo, porque com o acordar dos chakras há mudanças na consciência e na mente. Estas mudanças têm significativa relevância e relação com a vida do dia-a-dia. Com o despertar da kundaliní não apenas visões transcendentes têm lugar. 
Ocorre também o desenvolvimento da inteligência criativa e o acordar de faculdades supramentais. A kundaliní é a energia criativa; é a energia da auto-expressão. Não só a mente muda, bem como as nossas prioridades e afectos. Porém, esta transformação pouco tem a ver com a vida moral, religiosa ou ética de cada um. Tem mais a ver com a qualidade das nossas experiências e percepções. Tal como na reprodução, uma nova vida é criada. Ocorre como que uma metamorfose. Há até a possibilidade de todo o corpo físico ser reestruturado (Satyananda, 1984).

Por meio de técnicas esta «energia da serpente» pode ser despertada e guiada ao longo da coluna vertebral através de vários chakras até ao cérebro (White, 1977). O Tantra[8] fornece um curso graduado de maneira a despertar a kundaliní no Homem, fazendo-o atravessar várias etapas no caminho da grande consciência cósmica, que os Upanishads (comentários dos Vêdas[9]) descrevem como sendo o grande objectivo da vida do Homem. O culto tântrico, assim como os seus exercícios, têm influenciado continuamente o Hinduísmo e o Budismo. Esta influência é sentida desde o culto de gráma-dêvatá, no mais interior vilarejo da Índia, até ao mais elevado dêví-upásana dos grandes adwaitins (monistas) como Shankarácharya (788-820 d.C.). Penetrou até num ritual puramente vêdico: a meditação do gáyatrí mantra no sandhyá vandana. Os Tantras são, na realidade, escrituras comportamentais que passaram a existir como resultado do desejo hindu de não se satisfazerem, através dos tempos, com meras teorias em religião, mas trazer cada teoria ao teste da experiência concreta. O Vêda, sem dúvida, proclama a identidade do jívátmam, a alma individual, e do Paramátmam,[10] o Espírito Supremo. Porém, como redescobrir esta identidade perdida? Como purificar (sôdhana) e levantar (uddhára) a alma imersa em pecado e tristeza ao nível original da chaitánya (consciência) pura? É aqui que o Ágama ou Tantra vem em nosso auxílio e descreve o caminho da realização, passo a passo, de acordo com o adhikára (qualificação) de cada um (Sarma, 1967).

A kundaliní é um termo feminino por ser o Poder Ígneo, de natureza feminina, isto é, de polaridade negativa (DeRose, 1992, 1999). Na doutrina do Tantra Shakta, macho (Shiva) e fêmea (Shaktí) são dois princípios do universo. Estes dois princípios existem no interior de cada indivíduo (Rama, 1995). Shiva é a consciência suprema, imutável e eterna e Shaktí o seu poder cinético. O Universo é Poder. O Universo é uma manifestação da glória desta dêví (deusa) (Sivananda, 1979). Ela é identificada com shabda-brahman (o som primordial ou som do Absoluto: o mátriká mantra ÔM) (Eliade, 1954; Muktananda, 1994b; Van Lysebeth, 1990). Shaktí é, acima de tudo, uma força consciente e inteligente (Feuerstein, 2001). À escala cósmica esta Shaktí é designada pelo nome de mahakundalí, o Grande Poder enrolado. À escala microcósmica (humana) é denominada kundaliní, a enrolada, a energia que, no termo do processo involutivo que produziu o psiquismo e o corpo, continua a ser o suporte da manifestação individual (Michael, 1978). Porém, pensa-se que a kundaliní contém não apenas energia latente mas também memórias latentes, quer pessoais, quer transpessoais.[11] O modo moderno de entender este poder latente é em termos do inconsciente[12] (Rama, 1990).

A kundaliní é conhecida tradicionalmente como Durga, a criadora, Chandi, a feroz, sedenta de sangue, e Kali, a destruidora (Krishna, 1985). Por exemplo, quando ela acabou de despertar e somos incapazes de dirigi-la, é chamada Kali. Kali, a primeira manifestação da kundaliní é um poder terrível; é o poder inconsciente do Homem. Kali subjuga completamente o indivíduo, o que é representado pela sua dança sobre o Senhor Shiva. Isto acontece às vezes devido a instabilidade mental; neste caso, as pessoas ao tomarem contacto com o seu inconsciente vêem inauspiciosos e ferozes elementos – fantasmas, monstros, etc. (Satyananda, 1984). Krishna (n.d.), após ter despertado a kundaliní, escreveu: “Nada pode expressar a minha condição mais graficamente do que a representação de Shiva e Shaktí (na forma de Kali) pintada por mestres antigos, na qual vê-se Shiva prostrado na posição supina, indefeso, enquanto que a outra, de maneira absolutamente despreocupada, dança alegremente sobre o corpo do primeiro. O observador autoconsciente em mim, o assim chamado dono da estrutura carnal, agora completamente subjugado e posto fora de acção, constata que ele próprio está completamente à mercê, ou seja, falando literalmente, está aos pés de um poder que inspira pavor, totalmente indiferente àquilo que o dono pudesse pensar ou sentir, prosseguindo impassivamente com o corpo até à meta escolhida, sem mesmo conceder-lhe o direito de saber o que fez para merecer a injúria. Tenho todas as razões para crer que a representação foi planeada para pintar uma condição exactamente similar à minha por parte de um iniciado, o qual passou por uma provação igual” (p. 173). Quando Kali desperta desloca-se para cima para encontrar a manifestação ulterior, tornando-se Durga, a supraconsciente, que outorga glória e beatitude. Durga é a removedora das circunstâncias nefastas da vida e a dadora do poder e da paz que se libertam do múládhára chakra. Em suma, quando já somos capazes de dirigir a kundaliní e usá-la para propósitos benéficos, e nos tornamos poderosos à sua custa.


Há também indícios de que a activação da kundaliní não é um fenómeno limitado às culturas orientais. Aparentemente, o mais antigo dos símbolos da kundaliní proveio da Índia. O signo hindu da kundaliní representa-a como um bastão central (a nádí sushumná, que corresponde à coluna vertebral), com duas linhas sinuosas laterais (as nádís idá e pingalá) que sobem serpenteando até à altura da cabeça. Inseridos na haste central estão os 7 principais dos chakras primários, representados por sete círculos. Este símbolo foi aborvido pelos gregos (caduceu de Hermes, ou de Mercúrio, para os romanos), judeus (Árvore Sephirotal) e cristãos (Santo Graal) (ver DeRose, 2007).


Quem tornou disponíveis as informações acerca da kundaliní junto a grandes audiências ocidentais de forma geral e popular, foi o indiano Gopi Krishna (1903-1984), fundador da Kundaliní Research Foundation, Ltd. (S. Grof & C. Grof, 1995). Na sua opinião (Krishna, n.d.):

Esse mecanismo, conhecido como kundaliní, é a verdadeira causa de todos os fenómenos espirituais e psíquicos autênticos, é a base biológica da evolução e do desenvolvimento da personalidade, a origem secreta de todas as doutrinas ocultas e esotéricas, a chave mestra para o ainda não resolvido mistério da criação, a fonte inesgotável da filosofia, da arte e ciência, e o manancial de todas as crenças religiosas, presentes, passadas e futuras. (p. 199) 

por Alexandre Ramos

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